Finalmente, South Park: The Stick of Truth está completo. Depois de mais de quatro anos, dois cancelamentos, uma falência, três passagens de mãos e inúmeros atrasos, o lendário está completo, e ontém foi a chance do TechTudo testá-lo em primeira mão. Experimentamos uma build para PC, já no estado completo, por mais de uma hora, e ficamos impressionados com o resultado final – por todos os percalços, South Park: The Stick of Truth é um produto de amor pela série original de TV que o inspirou. Confira:
Dá para notar o envolvimento direto dos criadores da série, Trey Parker e Matt Stone, pois a fidelidade é extrema, com o jogo cheio de referências a muitos episódios da franquia. Desde o primeiro momento, o game tenta fazer seu melhor para se mostrar um RPG sério, com customização de avatar cheia de detalhes e uma história prévia cheia de mistérios sobre a nova criança (o jogador), deixada voluntariamente na ignorância de algum trauma antigo.
A trama é apenas um pretexto para diversão: há um Bastão da Verdade na vizinhança, e as crianças que o controlarem, “controlarão o universo”. Assim, elas se dividem em facções de elfos, humanos e outras raças para tentar obter o pauzinho, numa espécie de "Capture a Bandeira" do bairro. O faz de conta é compartilhado por todos os personagens infantis.
A exploração do mapa, depois da cena inicial, mistura de forma impecável a estética do seriado às necessidades do jogador: não há elementos de interface na tela, a não ser quando estritamente necessários, fazendo com que estes momentos pareçam, de fato, parte de algum episódio de South Park. A animação dos personagens e a escolha de cores é a mesma. O mesmo pode ser dito sobre a dublagem dos personagens e sobre as cenas não-interativas, que foram dubladas e dirigidas exatamente da mesma forma que na série. De verdade, um recorte bem feito do jogo daria um Machinima pronto para a TV.
A equipe da Obsidian Entertainment fez a lição de casa quanto ao uso de bons elementos de outros jogos, também: a exploração das casas traz uma ambientação visual e sonora que muito lembra o “Esqueceram de Mim” para Super NES, com navegação lateral, muitas portas levando para novos ambientes 2D e bastante bagunça para interagir. As batalhas misturam comandos por turno com minijogos de precisão que fazem muita diferença, dependendo da habilidade do jogador, de uma forma ainda mais elaborada que em “Paper Mario”. A riqueza de objeto para interagir espalhados pelo jogo, muitas vezes por nenhum motivo além de uma risada gratuita, lembra em muito os antigos jogos no estilo point-and-click ao estilo “Criatura Crunch”. Há muita vida nessa South Park, e uma das missões é “Encontrar Jesus”, uma espécie de esconde-esconde divino que exige que o jogador saia clicando por aí.
Humor negro
Há um motivo para o jogo ser indicado apenas para pessoas maiores de 18 anos. A esse rol de homenagens, a Obsidian juntou o tradicional humor negro característico de South Park, conjurando uma mistura perfeita de seriedade na jogabilidade com irreverência no enredo. Por mais complexo que o jogo se apresente (cada personagem tem skill trees com 5 habilidades com 5 níveis diferentes, inventários com uma dúzia de slots, milhares de recompensas recheando cada segredo do jogo, benefícios de companheiro customizáveis, itens coletáveis, até mesmo um metajogo de coletar “Chinpokomons”), ele nunca deixa de imprimir sua marca mal-educada sobre a experiência geral.
É possível perceber isso já na escolha de classes, separadas entre mago, gatuno, guerreiro e “o Judeu”, que o jogo põe como um faz-tudo (e nunca deixa de tirar sarro, com habilidades como o “Judai-Kwon-Do” e constantes comentários preconceituosos). Outros elementos que apontam para isso são as status de batalha, que têm entre eles “pu**” e “com nojo”, e a trilha sonora belíssima, com estética medieval requintada (uma baita ironia, considerando que o jogo deixa claro o aspecto de brincadeira da coisa toda a cada instante). As músicas com canto lírico de Cartman são as melhores, nesse sentido. Tudo isso é costurado com muita naturalidade a um enredo que é tão nonsense quanto qualquer episódio da série, que promete envolver aliens, comentários políticos bizarros e muitas coisas nojentas com a turma mais boca-suja da TV.
A versão brasileira
Parabéns precisam ser dados, e com uma salva de palmas, ao time de localização para o Brasil. O trabalho de legendagem e tradução de interfaces do jogo para o português nacional tem qualidade poucas vezes vista por aqui, com uma flexibilidade de estilo impressionante. A linguagem original do jogo mistura de forma cômica o inglês medieval com as limitações infantis e muitos xingamentos, e os tradutores preservaram todos esses elementos. Houve até algumas apropriações de piada que ficaram melhor em português do que em inglês. Caso, por exemplo, dos dejetos humanos usados para deixar os inimigos “com nojo”, em português traduzido poeticamente.
A tradução sofre bastante com a fala extremamente rápida dos personagens, exatamente como acontece na TV, e muitas vezes algum texto se perde nas interações mais intensas. Apesar de isso não ser responsabilidade do time de localização, é algo que realmente incomoda. O mesmo pode ser dito das mensagens tutoriais espalhadas ao longo do jogo, que ocupam um espaço gigantesco da tela. Mas, são defeitos que não comprometem a experiência do jogo.
A estratégia de mercado da Ubisoft para o Brasil, como ela já fez anteriormente com Assassin’s Creed IV: Black Flag e Rayman Legends, tem duas armas principais: de um lado, eles pretendem colocar a tradução para português do Brasil em uma versão exclusiva, vendida apenas aqui para forçar o público a comprar em lojas nacionais; do outro, irão sacrificar a margem de lucro, que se tornou ainda mais fina com a recente alto do dólar, para manter o jogo a R$ 150, mesmo no lançamento. Nos EUA, o jogo sairá no dia 4 de março, mas no Brasil essa data fica para o dia 15. Ele sairá apenas para Xbox 360, PC e PS3. Nenhuma plataforma next-gen ou da Nintendo serão contempladas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário